Sébastien Joachim

Este blog é um meio de comunicação entre o professor e seus alunos.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Mito e Metáfora

Uma das noções-chaves da Hermenêuticde Ricoeur é amétáfora que por sinal está estreitamente estreitamente associada à Metáfora.
Não são recusados aqui os trabalhos consideráveis de Mircea Eliade onde o mito é definido como uma narrativa primordial, organizadora da vida cultural e da caminhada de um povo em direção de seu destino. Já redigimos uma aula-conferência sobre ''O mito ontem e hoje'' . Mas aqui o contexto teórico difere sensivelmente, devido ao aspeto ético da Hermenêutica de Ricoeur- o lado teológico de Eliade aparentando um e outro estudioso.
Voltamos a repetir: o mito pertence ao regime metafórico. Uma ''autêntica'' figuração mítica fica na dependência da relevância de nosso conceito da metáfora. Ora existe concepção metafórica exclusivamente inclinada para a racionalidade ontológica e que não desagua, portanto, no ético-escatológico.
O racional hesita a se submeter ao ''trans-'' da ''trans-figuração''. Esse ''trans-'' exige o que exprime a expressão de Blanchot :Le pas au-delà, o passo além do passo, que coincide bem ao salto no buraco seguro chamado ''fé''. Na óptica do sagrado antropológico, não importa que essa f'é seja cristã, pagã, eclesial, não-eclesial, uma vez que se dá em termos de transcendência (mesmo à escala humana, segundo R.Garaudy) e em termos de sentido fundamental da vida . A ética de Ricoeur é mais exigente. Nela é banida a lógica do "próprio" e do "familiar" (o habitual); esta cede seu espaço ao "não-próprio" e ao "estranho" (Richard Kearney:1984:190, nota). A propósito da metáfora da "casa" desenvolvida por Heidegger em Lettre sur l'humanisme, Kearney explica esse desterro do próprio (correspondente ao sentido adquirido) e ao conformismo interpretativo:
“Como trans-figuração, a metáfora nos informa acerca de uma 'casa' pensada a partir do ser (o "poder-ser" do sentido), que este lugar não é apenas transferência do familiar para o fundamental, mas relação do fundamental ao familiar, relação essa que possibiliza o familiar e que faz que o familiar se torne afinal estranho, estrangeiro, não-próprio e não-apropriável".(R.K:O.C.,p.190).
Nos anos 60, em consequência da sua associação com o texto metafórico, o mito padeceu de uma certa hostilidade em certos meios filosóficos. Esses contemptores se recrutaram entre os defensores de uma "Hermenêutica da suspeita" (expressão de Ricoeur), nomeadamente os seguidores de Freud, de Marx, Roland Barthes de um lado; Levinas, R. Bultman, R. Girard de outro lado. Curiosamente, esse último grupo congregou pensadores do religioso. Grosso modo, os primeiros baseavam sua rejeição quer numa ideologia da representação que ligava o mito ao primitivismo de uma certa pré-história da luta sócio-econômica (Marx), quer numa representação tributária da estratégia capitalista que visava a uma fetichização do ser ou do consumo (Barthes). Por vezes, o mito passava neste primeiro grupo por "uma projeção (...) sublimada das pulsões libididinais reprimidas" (R.K,O.C.,p.191). No olhar destes estudiosos,o mito se resumia em "uma transposição enganadora e 'tática' que predeterminava e ocultava manobras condicionadoras" (O.C.,p191). Daí a necessidade de uma terapêutica de de3mascaramento (Barthes, Mitologias ).
Do ladd dos filósofos do fato religioso (o segundo grupo) se encontram alguns estudiosos que recusaram o fenômeno místico por medo de uma idolatria do sagrado a-religioso que se popularizava na Youth culture, nas importações "religiosas" massivas da místi9ca indiana no país do Tio Sam, fénômenos estes que desencadearam uma diversidade de - ismos sectaristas..
A exemplo de Barthes, era preciso, porém, desmitologizar. Pós o erro verdadeiro residia, no que tange ao mito, na projeção sobre a sua essência daquilo que era apenas desvios “regionai”.Pior ainda era cair num reacionisme hermenêutico de pendaor determinmista, ou seja, de praticar uma Hérmenêutica arqueológica consistindo em remontar às fontes sob o pretexto de guardar ao mito a sua pureza promeira.. Aí é que intervenha Ricoeur. Elew rompeu o circulo encantado da causalitdade e da volta passadista ao sebntido antido do mito., protestou contra essa imanência interpretativa e reivindica no lugat da restituições das figuras míticas o seu sentido escatológico(Kearney,1984,p.193).Mais do que isso, Ricoeur repudiou que o mito fosse enquadrado numa ideologia da representação. Pois, mesmo quando se trabalha com o representado, a dinâmica mítica desliza para um horizonte no sentido husserliano, , move-se para uma a alteriodade, orienta a interpretação na direção de algo ainda invisível ou não dito, de uma espécie de mundo a revelar de “universos a inventar”, na movência de uma “intencionalidade de figuração linguageira”(Kearney,1984:194) A Hermenêutica arqueológica, de índole determinista. Aí interveio Ricoeur. Ele rompeu o círculo causal da imanência hermenêutica que se afirmava e restitui às figuras míticas seu sentido escatológico (R.K,O.C.p,193). Além do mais, o mito não está calcado na ideologia da representação. Mesmo quando trabalho com o representado, ele desliza para um "horizonte", uma alteridade rumo ao invisível, à revelação de outros mundos, de outros sentidos, a "universos ao mesmo tempo inventados, na movência da “intencionalidade da figuração linguageira" (R.K, O.C., p194).
Uma peculiaridade do mito (e também do imaginário e do sagrado) é sua plasticidade ambígua do lado do receptor. Aí vem à tona uma exigência ética, face ao que não é necessariamente bom nem necessariamente mal. O mesmo evento mítico que libera aqui uma imagem mental de tipo heróico e diurno (o primeiro regime das Estruturas Antropológicas do Imaginário de Gilbert Durand) libera lá uma imagem mental de tipo eufemístico e noturno (o segundo regime das Estruturas Antropológicas do Imaginário de Gilbert Durand).
Mais um ponto de suma importância: a necessidade de uma releitura periódica dos mitos do passado. Ela se faz sentirnos escritores e artistas, na vida cultural , concomitantemente na consciência interpretativa, mediante una atenção vigilante ao surgimento de novos mitos . A estudiosa de Tel Aviv Ruth Amossy detectou alguns mitos emergentes no Star System, ao passo que Sherry Turkle (in Les enfants de l'ordinateur. Denoël, 1986) descreveu um certo neo-funcionamento mítico em torno do computador, entre os hackers do M.I.T. O que não podemos nos permitir é reduzir o mito à "simples codificação de uma mensagem lógica ou empírica"; devemos "respeitar as suas potencialidades transfigurantes", na autenticidade em que se dá o objeto representado, na esteira construtiva da Fenomenologia Hermenêutica de Paul Ricoeur

Referencias (parciais)
Kearney, Richard, "Heidegger, Dieu et possible" in Heidegger et la question de Dieu. Colloque franco-Irlandais. Paris. Grasset.1981
Kearney, Richard, Poétique du possible: Phénoménologique herméneutique de la figuration. Paris. Beauchesne. 1984.
Kearney, Richard, "Heidegger's concept of the possible in Philosofical studies. Dublin 1981.
Kearney, Richard, "Myth as the bearer of possible worlds : Interview with Paul Ricoeur", in The Crame Bag Book of Irish Studies, ed. by R. Kearney and M-P. Hederman. Dublin. Black-water Press, 1982.
Kearney, Richard, The Phenomenology of Imagination. University College. Dublin, 1977.

Nenhum comentário:

Postar um comentário