Sébastien Joachim

Este blog é um meio de comunicação entre o professor e seus alunos.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Encontros sobre Poética do imaginário

Sébastien Joachim

De 15 de março ao 21 de junho 2 010.

Renovo as boas vindas do primeiro encontro. Fecho o seminário sobre apenas um aspecto da Poética do Imaginário, a exemplo deste professor de Poética Contemporânea, um italiano convidado pela Université de Nice ( Nice Sophia-Antipolis) que limitou a sua disciplina ao essencial . Na conjuntura ele optou por estudar apenas entre dez títulos da sua bibliografia a Obra Aberta de Umberto Eco, um livrinho que reuniu aquilo que ele achava fundamental de discutir em nossos temos em vez de remontar até ao romantismo e de efetuar um sobrevôo de lá até os nossos dias. Ora, o mito das Origens que escolhi, por trás da Poética do Mal, é algo que se revela muito atual se consultarmos os acontecimentos cotidianos tanto no mundo da vida quanto no mundo das Artes e Literatura.

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Procedemos em cada encontro em um incessante ir e vir sobre essa temática cujas imagens nos cercam por todos os lados...

Do ponto de vista metodológico, o que queremos frisar é uma a Poética e Estética do Mito que se escreve e se interpreta em um Hoje incessantemente renovado mediante um gesto instauração ou de restauração daquilo que JÁ HAVIA SIDO em um dado momento de nosso passado cultural. No âmbito de nossa disciplina, entendemos por cultura toda a soma de determinações que incidem sobre a nossa existência individual e coletiva sem, porém, anular a nossa liberdade de escolher e de recriar. Fernando Oliveira tem pensado neste horizonte na sua brilhante intervenção sobre Osman Lins na primeira Aula. Igualmente, na segunda aula quando declarou que Todos os escritores, e não apenas Borges são re-escritores. È algo sobre o qual voltaremos a nos repetir incansavelmente. Até por que o exercício crítico sobre o qual repousa o seu grau de Mestre e de doutor não passa disto, e que dependerá de cada qual fazer dele uma péssima colcha de retalhos ou uma realização criativa, e neste último caso um trabalho institucionalmente transgressivo.

.Volto e voltarei a frisar que a Mitopoética se concretiza numa prática sensível, prudente, fundamentada historicamente, de re-escritura.Você deve procurar refinar a sua leitura do mito com uma pesquisa de História literária e de História cultural dos mitos ao consultar a Antropologia cultural, a História da Arte, a História das religiões (cf. Mircea Eliade, História das religiões), estudos sobre o sagrado ( Rudoph Otto, Antônio Carlos Magalhães, cf. vide Sagrado na Internet e no Wiki e em catálogo de Livrarias ou Editores pelo Web), Dicionários de Civilização grego-romana, Dicionários de Mitos Literários tais como o de Pierre Brunel et alii..Também alguns Filósofos como Ernst Cassirer, Filosofia das formas simbólicas, particularmente o segundo dos 3 volumes.. São passos preliminares destinados a estabelecer o situs, o lugar de germinação, do surgimento, a etiologia do mito. Em outros termos, assim como veremos no caso do Mito de Faust (um mito do Mal),trata-se de identificar os prováveis lugares por onde apareceu o mito de que você suspeita a presença em tal livro ou objeto de arte que está lendo ou estudando. O passo seguinte consistirá em acompanhar a travessia do mito identificado em suas fases intermediários de transformação, da versão inicial disponível até a versão atual que você suspeita estar trabalhando por baixo ou em diversos níveis da obra em leitura ou em estudo (forma de composição, rede de imagens, motivos e temas, personagens e espaços, situações oscilando entre o já visto e o nunca visto, jogos por vezes desconcertantes sobre a temporalidade entre o antes e o depois, o outrora e o presente, o agora e o futuro, ou mesmo entre o tempo e a eternidade ou o intemporal. Estamos no reino do imaginário, ou seja, de todos os possíveis. Para não alongar a pesquisa em demasia, é preciso por vezes delimitar fronteiras temporais ou regionais. Por exemplo, da península ibérica ao Brasil do século XX; do Romantismo português até o surrealismo, Na idade Média e no tempo de hoje; NO Romance de formação do século XIX até a Segunda Guerra; No teatro das três ultimas décadas no Brasil e na América do Sul. Ou coisas desse tipo.

Quando falei de mito de origem, não devemos nos iludir. A origem é sempre hipotética quando deixamos a ordem da fé. para ingressar na ordem da arte. Remeto neste particular a um belo ensaio de Regis Lefort, L´originel dans l´oeuvre d´Henry Bauchau. Paris: Honoré Champion 2007. O ensaísta mostra a retomada muito pessoal e muito instigante do mito de Prometeus acorrentado, já tratado pelo trágico grego Ésquilo, por Henry Bauchau, um dos mais festejados escritores belgas da atualidade. Foi não apenas uma a adaptação da peça antiga ao teatro sob o título Diotime e os leões, mas também a sua transposição para a ópera.. O mesmo escritor tem, aliás, re-escrito a tragédia Antígona para sob forma operática. Mas o que mais nos interessa é a distinção efetuada por Regis Lefort (Obra citada, p.21) acerca da prática de Bauchau.. Diz Lefort sobre a forma particular de re-emprego de mitos antigos pelo escritor belga:

o ponto central de sua obra é o originel (traduziria por originário) . Isso poderia parecer com o ALEPH de Borges. Originário tal como um Oriente da obra, marcado por um suspenso que seria a certeza de uma incerteza.”.

Em seguida, mas falando em qualidade de crítica que escolheu um tal tema, Lefort emite logo após essa observação :

O originário é aqui escolhido como problemática para o estudo de uma obra pode surpreender. Com efeito, ele não é uma noção crítica já conhecida nem um tema. O que não o impede indicar claramente um tratamento peculiar do espaço e do tempo. Pelo originário da experiência ou do ato de escritura, almeja-se alcançar um espaço e um tempo de antes dos começos, um antes fonte de uma arte que podemos aproximar da arte eterna do poeta visionário de um Arthur Rimbaud”.

Estas derradeiras considerações vão ao encontro de certas outras similares que tomarei mais adiante emprestadas do filósofo do imaginário Jean-Jacques Wunenburger (infelizmente não traduzido no Brasil, excetuando dois livros que se afastam do nosso atual propósito).

Depois das investigações preliminares assinaladas antes dessa digressão Bauchauiana, começa a análise propriamente dita da obra comprometida com um mito em estado de hipotexto (segundo a terminologia de Gérard Genette,in Palimpsestes. Paris, Seuil, 1982).

A análise seria, abusivamente falando, comparada, como se costuma dizer os pedantes da “literatura comparada”. De fato, este trabalho de não passa de uma simples análise contrastiva baseada num repertoriar de Diferença e Repetição, como diz um título de Gilles Deleuze. (Não é um livro não é livro muito fácil, porém umas páginas dele foram disponibilizadas para você). É necessário praticar um close-reading do mito.

Mas o que é afinal o mito? É uma narrativa “primordial”(Mircea Eliade).isto é, que dá um ponto de partido no incessante esforço de entendimento do humano, de sua existência, de seu destino na terra, de seu devir depois da morte.Tais narrativas tem sido sempre exploradas na arte e na literatura que são elas também lugar de questionamento ansioso sobres a nossa existência e nossa identidade , a morte e todos os enigmas e “por que ?” de nossa vida passada, presente futura de nosso destinos se transpõem nas artes, nos rituais religiosos, e depois desta vida em e de sua por algo que regula a nossa vida, as práticas sociais, e suas transposições nas práticas artística; e. Narra assim o começo o meio e o fim de nosso destino na terra, o que somos o que nos tornamos, para onde vamos- questões sem respostas certas fora da fé. Por isso é que todas as religiões se encontram aqui, bolando todas narrativas míticas Mas seria ingênua de pensar que apenas pastores e padres ou rabinos ou os discípulos de Buda e de Maomé e outros misticismos religiosos se preocupam com isso. Em nossa vida diária, estamos em busca constante de identidade individual e coletiva de todos os gêneros que banham em narrativas míticas- orais ou escritas ou cantadas ou representadas em drama, filmes, telenovelas e mil outros eventos da vida. Assim como o psicanalista e filósofo Jean-François Chiantarreto, sou convencido de que todo texto artístico tem um quê de autobiográfico, e portanto rebola após uma aferição de identidade. E Deus sabe o quanto os coitados de nossa pobre humanidade viram facilmente genocidiários, guerreiros, terroristas, kamikazes, torcidas organizadas, uma raça de bárbaros,, de torturadores, de barões nefastos disto ou daquilo, de Dr No da política, de Frankenstein em negociatas, APENAS afinal das contas para afirmar uma identidade sempre mal asseverada, sempre cambaleando. Todas as causas, nobres ou ruins, passam por mitos identitários subjacentes.

O mito está, portanto, na origem, no meio e no fim de TUDO, Tal como o imaginário, ele não é antes da sua concretização nem Bem nem Mal. Pois, há mito do ódio, há mito de amor, há mito apoiado em rituais satânicos, há mito patrióticos que levam ao heroísmo como às guerras injustas.Um mito está por trás do símbolo da SVASTIKA na sua versão nazista. Existe um arquétipo da redenção (portanto um mito regulador de fé ) na Cruz. Há mitos implicados em reverências dadas a todos os fenômenos da Natureza ( o Arco-iris) por exe.), a certas plantas medicinais, a certas flores, a certos pássaros (a Pomba da paz), a certas cores associada a morte ou ao bem estar da mente. Se mitos e arquétipos e símbolos que os subjazem regulam os nossos comportamentos e atitudes, é por conseguinte necessário pensar em formular uma ética do mito e do imaginário, para armar-nos contra certas derivas, assim como veremos no romance Sol Dos TRÓPICOS. Neste sentido não acho a arte, tão envolvida na exploração do mito, poder ser considerada para além do bem e do mal, como tenho dito anos atrás. Não quero colaborar à toda aquela insensatez que nos assola.neste planeta Terra. Há mitos que empurram para o bem, outros para o mal. Há mito assimilado a Gandhi, há mito assimilado a Hitler.O motor do desejo de um contrapõe-se aos impulsos do outro.Imagens associados à narrativa mítica do Mal se subdivisam, se hipostasiam em uma multiplicidades de componentes temáticos que se escondem por trás, por exemplo de um substantivo de ação ou de um verbo de ação. Pois existe palavra-ação, além dos verbos, existem nomes que os Gramáticos chamam de deverbais, etimologicamente derivados de um verbo de ação. Tema-mítico pode também se materializar em um enunciado, uma frase, um gesto, uma estrutura sonora, a faixa colorida de uma tela, um parágrafo, um conto, uma novela, um romance, um acontecimento histórico Habitualmente procuramos o agenciamento de um mito em qualquer gênero de discurso mediante a identificação de papéis ou melhor de agentes( no sentido geral de fonte de ação, daquilo que age, que tem impacto): personagem-tema, ação-tema, temporalidade tema (geralmente circular, cíclica como no eterno retorno, diria Nietzsche),espaço, situações., eventos complicadores, um começo, um fim. .Tudo pode ser tema ou mitema (diria Gilbert Durand), e é possível nas re-escrituras, registrar a virada de um tema mítico em meta-tema.

Em primeira aproximação, sendo o Imaginário o estudo das imagens que povoam a imaginação, em outras palavras: sendo as imagens constituintes da língua pela qual se expressa a imaginação, sendo o imaginário o domínio de residência da Imaginação, um domínio ubíquo que passa ao largo do racional., é preciso portanto aprender a ler as imagens. Mas pode ser imagem tudo aquilo que acabamos de enumerar no parágrafo anterior. Antes de tentar com Wunenburger, amigo de Durand, uma tipologia das imagens devemos ficar bem cientes que essa tentativa classificatória não pretende racionalizar a imaginação. Gilbert Durand e o filósofo Wunenburger sabem perfeitamente que a razão é incapaz de expressar adequadamente realidades dos afetos; a razão é até incapaz de compreender certas realidades da mente onde se encontram superpostas ou entrelaçadas, contrariedades lógicas, contraditórias. Para abreviar, o reino da Imaginação ou do Imaginário, que também é o do Mito, é reino das hiper-realidades espiritualo-afetivas ou anímicas, imponderáveis, impossíveis de ser enquadrinhadas, impossíveis de ser contidas na formalização lógica das frases, clausulas, definições. Elas transbordam estas. No entanto a imaginação e suas redes de imagens gozam de tem uma arquitetura misteriosa. As redes de imagens estão no térreo do edifício de vários andares do Mítico. Cada andar tem uma supremacia sobre aquele que lhe é inferior em forca produtiva e em universalidade de sentidos. A ordenação de que falamos pode ser pensada assim: é uma sorte de ordem hierárquica: vai de baixo para cima quando, perante um texto que suspeitamos comprometido com um grande mito, procedemos a um levantamento das imagens sensoriais, das imagens de superfície as quais levam às símbolos latentes, e estes a força propulsora residindo no par Arquétipo/Imagem primordial que ritmam Esquemas diretores ou “Schèmes”que ritmo o movimento. Mas do ponto de vista da Produção, o movimento é inverso. De bottom-up, passamos ao top-down. O reboliço da lambada vai de cima para baixo. Identificamos a fonte criadora do mito de partida, que compararia a uma língua estrangeira e que de tradução em tradução chega para nós em nossa língua. O que precisa então é acompanhar um dinamismo, e não efetuar um levantamento estático de puro reconhecimento. De fato, analisar é dançar uma lambada: sobe sobe sobe; desce desce desce. É uma dialética lambadeira.Teorica e no plano estático, é uma passagem em dois sentidos do Gênero à ao Indivíduo ou Singularidade, transitando pela Espécie.Da abstração e universalidade e a compreensão maior à singularidade concreta e porém resistente à abstração e reduzido à unidade concreta que, paradoxalmente é mais heterogênea, mais complexo. O corpo humano ao vivo é mais complicado que as pranchas de anatomia pela qual podemos abraçá-lo num só olhar..

Antes de chegar à tipologia de Wunenburger, volto a repetir minha descrença em tudo que é categorias invariável. Sou o homem da variações, da flexibilidade e do ecumenismo. Por isso para mim no ato de interpretação é puro bizantinismo ou casuísmo tentar separar ou distinguir um de outros Imagens,metáforas,símbolos. Principalmente quando se trata da “metáfora geradora” teorizada pelo Ricoeur em seu livro La métaphore vive de Paul Ricoeur (Paris: Le Seuil, 1975. existe tradução brasileira sob o título “A metáfora viva”).. As imagens primordiais ou arquétipos podem eles também sofrer modificação no ranking. Pense por exemplo na relação semiótica entre um Grupo de Personagens e um Personagem. O personagem singular ocupa na ordem da compreensão (contagem de componentes) similar posição hierárquica com seus constituintes do que a sua relação com o Grupo. O Grupo é mais abrangente e contem o Personagem entre vários outros. Mas o Personagem é um superconjunto de unidades (cabeça, tronco, braço, pernas e aí vai). E cada uma de suas unidades constituinte se torna um conjunto para uma nova hierarquia: o Braço tem antebraço, mão, a Mão tem dedos, os Dedos tem ossos e carne e pele e outros elementos anatômicos, etc, até chegarmos às células. Podemos assim multiplicar patamares hierárquicos produtores nas Imagens primordiais que escapolem ao visível, como a imagens sobrenaturais irrepresentáveis como as de Anjo. Aqui, há possibilidade de estabelecer uma hierarquia com poder de mando proporcional à sua proximidade do Pai Eterno entre Arcanjos, Querubins, Serafins e não sei mais o que. Todo o imaginário é povoado deste tipo de reversão ou inversão: algo superior aqui passa a um escalão inferior lá, como a árvore, seus ramos, e seus ramos de ramo.

Falando de árvore, é bom ter em mente que os Arquétipos assim como certos protótipos, são elencados a partir dos quatro elementos bachelardianos, ao tempo, ao espaço, à natureza. Porém, Adão, Eva são também Protótipos, igualmente Caim, Abel, o Cristo. O panteão pagão dos Gregos e Romanos nos provem com toda uma safra de mitos e de figuras míticas, como Eros, Dionísio, Narciso, Édipo, etc, E também o teatro grego-latino que as literarizou e as popularizou entre nos até os nossos dias: calcanhares de Aquiles), Antígona, Orfeu, o Minotauro, o Labirinto (lembre-se que o Labirinto é um tema favorito de Borges e de Octavio Paz), Dédalo (um dédalo de ruas). O filósofo francês Luc Ferry demonstra seu livro A Sabedoria dos Mitos Gregos: Aprender a viver II.(Rio de Janeiro: Objetiva, 2009,de que disponibilizei algumas páginas) demonstrou a atualidade desses mitos entre nós hoje, na fala cotidiana inclusive.

Omiti anteriormente dizer mais uma coisa muito importante a respeito dos Esquemas (Schèmes).Schèmes”ou Esquemas diretores estão relacionados a posturas corporais como a verticalidade, os movimentos de engolimento na digestão etc Sua existência e funcionalidade foram reveladas pelo Antropólogo francês Leroi-Gourhan, depois de seu dinamismo ter sido entrevista por Emmanuel Kant sob o nome de esquematismo.( schématisme). “Schèmes” ou esquemas diretores comandam, portanto, o imaginário, coordenando o dinamismo dos arquétipos, dos símbolos, das imagens. Nada parece ir ao sabor do acaso. O que levou o filósofo e antropólogo versado em Literatura, Gilbert Durand, a construir um modelo de funcionamento do “Imaginário em processo”. Este modelo está apresentado com requinte em As estruturas Antropológicas do Imaginário”.e resumido no precioso livrinho de Danièle Rocha Pitta, ex-aluna do Mestre francês. Um atalho está indicado nas linhas a seguir, nas quais vou dar mais um pulo para trás, a fim de manter viva a memória deste seminário.

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Relembrança da primeira aula + Novas diretrizes neste work-in-progress.

Antes, revemos rapidamente o evento da primeira aula (ou dfas duas primeiras aulas)

Dei as boas vindas a todas e a todos que vem participar desta disciplina.

É para mi,m uma grande satisfação para mim de reencontrar antigos alunos ao lado dos novos que um dia passarão a outros antigos. Isto ajuda certamente a manter um clima cordial e fraterno, como deveria ser em toda sala de Pós-Graduação.

Nas duas primeiras aulas foram tocadas as questões seguintes: o recorte estratégico ( a Poética do Imaginário tornado A Simbólica do Mal); a definição do Imaginário como Alfa e Ômega dos Estudos literários ( o escritor imagina, e nos enquanto profissionais da leitura cooperamos com a sua empreiteira descobrindo e revelando mundos e formas); não existe Literatura comparada stricto sensu sem abuso terminológico ( existe apenas Leitura Literária dentro da qual o Outro sempre está presente e confrontado comigo, ou na qual se constroem encontros e desencontros entre “diferenças” de vários tipos, quase sempre enraizadas em culturais ou subculturas, e que o leitor está convidado a arbitrar em posição de Mediador); obras produzem obras, toda obra origina-se consciente ou meio-inconscientemente a partir de uma fonte arquetípica, dum Mito “princeps”/primeiro, dum Type/Tipo (do que ela é uma variante, um token ;( isto atinge as questões formais como as questões de sentido,- personagem, modalidade de tratamento da temporalidade ou da espacialidade, portanto História e Geografia, Conhecimento científico ou técnico ou religioso, psicologia padronizada, Educação padronizada, enfim maneiras de fazer, de dizer e de até portando modos de enunciação, de utilização dos enunciados dóxicos ou adágios (cf. o tratamento “desviante” dos ditos populares por Hermilo Borba Filho). Disse também que o poeta francês simbolista Stéphane Mallarmé sabia partir, como procederá ulteriormente Raymond Roussel estudado por Michel Foucault, de uma palavra, fazer proliferar essa palavra como se fosse um mito seminal e gerar realidade nova ignorada de nossa enciclopédia. O que traduziria mais recentemente CDA no celebre verso “Palavra puxa palavras”e de modo muito mais elaborado o cientista emigrado nas Letras e tornado o pai da Psicocrítica, Charles Mauron num estudo sobre Mallarmé intitulado Des métaphores obsedantes au mythe personnel/ Das metáforas obsessivas ao mito pessoal).(Paris: José Corti, 1953). Fiz reparar também que Laurent Mattiussi, num a capítulo do livro Questions de Mytho critique organizado por Danièle Chauvin, André Siganos e Philippe Walter (Paris: Imago, 2005) cujo título é “Schème, Type et Archétype”(p.307-317) mostrou igualmente a partir da poética de Mallarmé um produtor de textos de alto gabarito podia utilizar palavra-gênero, ou palavra indutora, de teor assaz abstrato,bastante vazia, para nos incitar a evocar via a nossa própria imaginação de receptor um sem-número de realidades oníricas. O exemplo mais citado é o verso no qual o poeta profere a palavra FLOR e argumenta que essa prolação é de natureza a fazer sonhar, justamente por não ser uma flor específica que tem uma cor, um aroma, um jeito específico como o JASMIN.

O que me leva a pensar a uma hipótese do Doutorando Conrado Falbo. Depois de uma breve exposição sobre certa aporia em Bachelard e Durand, ele declarou que talvez a imagem precise ser esvaziada para que o leitor a preencha. Minha resposta foi: é um processo de comunicação programado pelo autor, um convite provável a participação do leitor à produção do sentido e do imaginar caro ao genial e dramaturgo e romancista irlandês Samuel Beckett que, a mediada que avançava ao fim de sua carreira literária, usava palavras aparentemente vazia, e reduzia o comprimento de seus escritos até chegar a opúsculos de cinqüenta, sessenta páginas narrativas. Fiquei muito feliz de ver uma reflexão semelhante à hipótese de Conrado num brilhante texto do filósofo das imagens, Jean-Jacques Wunenburger (“La créativité imaginaire: Le paradigme autopoïétique”. In FLEURY, Cynthia (org.). Imagination, Imaginaire, imaginal. Paris: PUF, 2006, p.153-182).Vou citar diversas passagens deste texto de Wunenburger a fim de reforçar aquilo que foi dito sobre o método mitocrítico da Re-escritura do Mito através da História cultural. Aqui volta ao primeiro plano da teoria os conceitos durandianos de Arquétipo, de Imagem primordial, ao noção de Tipo (este ultimo termo no livro do grande “comparatista” Pierre Brunel, intitulado Introdução à la Mythocritique), Aproveitaria deste ensejo para enfiar algumas outras definições digressivas, mas de suma importância, na tentativa tipologia das imagens de J-J.Wunenburger: uma idéia do “schématisme” ou de onde derivou o “schème“; a noção de “fantasmática transcendental,” as imagens do sagrado que, aliás, se encontram tanto na maioria dos textos da grande Mística religiosa de Oriente e do Ocidente como na alta poesia . Dizendo isto, estou dando um piscar de olho em direção do Mestrando José Juva Junior que estuda o xamanismo, - um assunto, disse, que foge da minha competência, que é mais da alçada de Mircea Eliade, de Henri Corbin e dos Estudiosos do Imaginário da Universidade de Paris 4).Concebo, no entanto, a literatura como uma certa forma de xamanismo, no sentido alargado do termo.

Vamos agora visitar algumas passagens de Wunenburger, assim como prometido, a fim de ir um pouco mais adiante no que tange ao “schème” e à tipologia das imagens. A referência é o livro de Cynthia Fleury acima referida sobre Imagination, Imaginaire,Imaginal. O texto do filósofo das imagens se chama, em minha tradução: “A criatividade imginária:, o paradigma autopoïético” (p.153-182)..

Professor Wiunenburger começa por definir o campo de trabalho do imaginário e do mito quando diz na página 158:

“A imaginação é o lugar onde de uma dupla atividade : uma de jogo com imagens já formadas, a outra de transformação de imagens mais moldadoras que moldadas ( no original: “plus informantes que informées”.); uma que limita a atividade imaginativa a uma variação de imagens antecedentes, outra que lhe confere seu poder de transformação dinâmica”.

É pensando a esse dinamismo que ele tem escrito as linhas seguintes numa página anterior sobre o esquematismo pó ele chamado de “matriz produtora”:

“A noção de “schèmes” vem do esquematismo em Imanuel Kant,.O esquematismo ( schématisme) foi identificado nos Filósofos do Renascimento que lhe atribui a qualidade de “força viva” da mente. No esquematismo, Kant acentuava principalmente a capacidade cognitiva da imaginação. Paralelamente à e diferentemente da trazçao, a imaginação é instrumento de conhecimento. Quanto ao “schème”, ele é uma noção que seleciona e valoriza um tipo especial de representação. Mas esta não se reduz à reprodução de um referente sensível, Proporciona algo que vem de dentro, daí o nome de autopoïêse. Palavra, ao que me parece, já usada nos trabalhos dos cientistas cognitivistas latino americanos Humberto Maturana e Francisco Varela, essa palavra por seus componentes gregos designa força produtiva autônoma. Wunenburger o adapta para designar nos ensinar que o schématisme/ o esquematismo em sua irreferencialidade dá lugar á “uma informação apurada, simplificada, genérica e genética.. O “schème” possui a virtude de unificar uma pluralidade de particularidades mesmo a mantendo uma forma sensível; ele tem também a função de dinamizar o psiquismo, uma vez que a sua utilização permite exemplificações concretas e múltiplas”(p.157-158)..

Gostaria que tudo aquilo que acabamos de ouvir seja aproximado da idéia de protótipo dinamogênico, de matriz mítica ( em minha terminologia).

Prosseguimos agora com a tipologia das imagens ofertada por Wunenburger (p.159-164).

São cinco os tipos de imagens. Não entraremos nos pormenores da explicação de nosso eminente colega. E vocês já sabem da minha reticência quanto às tipologias. Mas aqui pode ser útil escutar Wunenburger.que é um sábio. Ele começa por sublinhar a importância de aplicar o a concepção do esquematismo tanto às imagens visuais quanto às imagens verbais. O esquema é, portanto, verbal e icônico. Wunenburger foi até acrescentar algo fundamental para os estudiosos da intersemiose, a saber (p.159) NUNCA EXISTE SIGNO DE LINGUAGEM SEM RASTO VISUAL, NEM IMAGENS VISUAIS SEM UM ACOMPANHAMENTO VERBAL / “Il n´existe jamais de signes langagiers sans sillage visuel ni d´images visuelles sans um accompagnement verbal”. Deduzo,pottanto, o axioma o imaginário produtor é verbo-icônico. Haroldo de Campos diria verbo-icono-vocal. Entretanto, com um ranço um tanto platônico no começo Wunenburger apresenta os 5 tipos de imagens a seguir:

1) As Idéias “imageadas”. ( as de Platão na caverna e supostamente especular do real);

2) As imagens alegóricas : a alegoria, diz o autor, é inicialmente um procedimento qu conduz a transpor um conteúdo de pensamento abstrato em imagem.(cf. J. Pépin Mythe et allégorie.Paris: Aubier, 1958).. Próxima da idéia, mas estratégica para ilustração e uma comunicação ordinária eficaz, a alegoria é de fraco teor criativo, salvo na guinada semântica que soube lhe dar Walter Benjamin. Reenvio os interessados, para além de Willy Böl e de vários textos de Seligmann-Silva, a dois livrinhos muito interessantes sobre a abordagem crítico-alegórica nas pegadas do extraordinário Benjamin: 1) Marcio Seligmann-Silva. A atualidade de Walter Benjamin e de Theodor W. Adorno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/José Olympio, 2009;:Bruno Tackels: Petite Introduction à Walter Benjamin. Paris: L`Harmattan, 2001;

3) A imagem de personificação. .É uma modalidade de colocação em imagem que transpõe uma idéia em uma personagem;

4) As imagens-esquemas, no sentido restrito, se limitam a configurações elementares do tipo do pictograma que resumem, simplificam uma realidade, incitando a engendrar uma variedade de formações particulares, ou inversamente, a remontar a uma in formação seminal (espermática diz o autor), uma definição geral sem face sensível (p. 160).N.B-Parece-me o procedimento escolhido por Ricoeur na sua apresentação da Simbólica do Mal.,

5) As imagens-arquétipos: na raiz de um esquema/scheme se encontra por vezes uma imagem originária, matricial. Sem ser determinada por um conteúdo, esta espécie de imagem teria , à maneira de um molde, a capacidade de gerir todas as sortes de imagens correspondendo a uma forma semântica. Exemplo: o pai ou a mãe, os elementos naturais (água, fogo, terra, ar) são tratados de arquétipos por Carl-Gustav Jung e G. Bachelard..

6) Os objetos marginais (cf. Durand, As estruturas antropológicas do imaginário). Por exemplo quando as nuvens são projetados sobre suporte material cujas formas geométricas, semi-figurativas ou emblemáticas servem para pensar, imaginar, sentir. São operadores externos de processos psíquicos de transformação de imagens, que chegam a dar nascimento a objetos rituais, como as mandalas ou obras de arte.N.B.- (confesso que isso passa um pouco longe de minha experiência de tradutor)

O autor conclui este breve sobrevôo de tipos de imagens (semi-imagens, proto-imagens, etc), pela observação seguinte: O pensamento puro deve ceder o seu lugar a um pensamento visual e lingüístico impregnado de energia cognitiva (162).No fim das contas, o esquematismo está a favor da reintegração da imaginação não reprodutiva nas operações de conhecimento como zona mediana, e também como pólo-fonte e recurso da vida do espírito (p.163 ).

Wunenburger não para aí. Ele empreende uma investigação sob o subtítulo “A Imaginação metamórfica” que vai nos conduzir a um novo olhar sobre a metodologia bachelardiana, que ele qualifica de metodologia contraditorial (na página 167, que cita em nota S. Lupasco, autor da Filosofia do Não). Vou dar conta apenas de algumas passagens que me parece de particular relevância.Por exemplo, na página 167, Wunenburger assinala que existe em Gaston Bachelard uma dupla metodologia da compreensão da imaginação viva:

1°) uma metodologia fenomenológica que flagra, nas invenções e nas obras, uma imaginação in actu;

2°) uma metodologia de pendor estrutural, que, retrospectivamente, descobre que o trabalho da imaginação obedece a estruturas profundas constituindo o alicerce de todos 0os regimes de produção de representações.

Um pouco mais adiante surge uma colocação sobre a criatividade bachelardiana na qual essa dupla metodologia entra num jogo dialético. O autor nos afasta um pouco da idéia de que a Imaginação é apenas um dom, Em seus próprios termos, “ a criatividade não é a simples expressão de um gênio que vem fluir de dentro para fora segundo o modelo da energia criadora de Henri Bergson; ela deve ser de preferência entendida como o resultado de uma dialética entre uma tendência para a inovação e uma resistência a uma estrutura que agiria como uma mola cuja força deriva de uma compressão prévia.” O contexto dessa declaração é o da luta em que devem se empenhar como em um corpo a corpo com a matéria, previamente à liberação da imaginação o padeiro e outros artesões (p.169) Essa passagem constitui para mim uma excelente analogia do trabalho literário criativo que, como já disse, tantas vezes, é antes de mais nada um corpo a corpo com o material literário de estudo (Textos de ficção, teatro, poemas, e obra prima da Paraliteratura, pintura e música, filmes ), de preferência à indigestão estéril de uma tonelada de textos teóricos. A pessoa que vai me convencer do contrário ainda não nasceu.

Mais uma passagem bem inspirada de Wunenburger em sua interpretação de Bachelard, que me lembra mais uma vez uma intervenção de Conrado Falbo.“Está no fim da página 169 e nona página 170 e se traduz sumariamente assim:

“A poética de Bachelard propicia a descoberta duma propriedade latente da própria imaginação.. Esta propriedade reside num processo de desligamento das imagens, ou mesmo da sua emancipação.Paralelamente ao que acontece na abstração científica, parece que a poética se vê conduzida a operar uma de-substancialização das imagens, quando estas tendem a atrapalhar a criação. A imagem está sempre convidada a desaparecer em prol de um núcleo de sentido novo, o que implica uma sorte de retirada e de esvaziamento. O dinamismo do imaginário em Bachelard acaba ter como fundamento derradeiro uma sorte de processo que consiste em esvaziar a imagem para que uma outra possa tomar o lugar.Foi isso que intuiu Conrado na aula de29 de março 2010. Louvada seja a sua intuição teórica!

Prossegue o filósofo francês, dando a máxima abrangência no plano da Poética ao seu achado, cabe a cada um se acostumar a fazer igual):

É convocando uma parte de não-ser que o ser da imagem libera a sua verdadeira riqueza, que é de nunca fazer obstáculo ao outro de si mesmo. A criatividade é um processo de alteração das representações do qual surge uma alteridade. Esta será tanto mais dinâmica que uma fase de altercação, de luta terá permitido de fazer emergir a resistência da representação no lugar e no tempo mesmo de sua capacidade de interiorização”(p.171).

A conclusão que Wunenburger tirou de tudo isso muda sensivelmente a nossa compreensão do imaginário e nos introduz ás imagens proféticas, místicas, sobrenaturais, que Henri Corbin, versado na cultura religiosa meio-oriental, na cabala cristã, na cabala árabe e judaica desenvolveu sob o nome de “imaginal” em seu livro “L´imagination créatrice dans le soufisme de Ibn Arabi. (Paris:Flammarion, 1956). Mas não ouso me aventurar neste domínio. Anoto apenas a seguinte observaação:

“ É um domínio metafísico , à margem de toda mimêsis reprodutora e do plano empírico. As categorias vigentes, diz Wunenburger, são o invisível, o oculto, o subliminal, o horizonte (p.176). O imaginal se esforça por dar corpo a esses eventos da esfera imperceptível, seve de conceito operatório a fim de conferir uma identidade originária a essas captações de presenças sobrenaturais , distinguindo-as da proliferação de imagens subjetivas, ou modos de fenômenos existentes em nosso mundo cotidiano.”(p.179)

Fechando essa última informação, voltamos mais uma vez à uma segunda versão das primeira aula ou talvez na ocasião da chegada das minhas caríssimas Piauienses da UESPI, Margaret, Silvana, Sueli,Lilla de Miranda.

.Disse novamente que íamos estudar apenas estudar O MITO DAS ORIGENS, ou mito de fundação do mundo. O primeiro livro da Bíblia, a GÊNESE oferece uma versão deste mito. Não existe povo que não criou um tal mito, por isso que ele se chama de mito cultural.Mas especialmente predominam no Ocidente paralelamente ao Mito bíblico da Gênese, os mitos cosmogônicos ou de fundação dos Gregos. Nos os latinos nos os receberam através do Romanos que os adaptaram. Vocês se lembram do chamado Milagre Grego: estes foram vencidos pelas armas, mas passaram a dominaram culturalmente o seus vencedores, os Romanos .

É mais do que provável que a memória cultural do Brasil combina uma mistura de mitos originários da península ibérica, de vários povos da África, da cultura ameríndia e outros aportes mais recentes que circularam através de objetos de artes, de utilidades domésticas, de culinária, de técnicas de construção, de transporte, de canções, de práticas corporais inclusive o esporte, práticas religiosas, de curar, de Fatos lingüísticos Mas o que vai nos reter a atenção é o Mito da origem do homem e da natureza, do qual derivam inumeráveis Arquétipos ou Símbolos Cardeais na Arte e Literatura, em uma multidão de expressões cotidianas em todas as línguas e culturas. Aqui já pela transmissão cultural, incontáveis re-escrituras que aprofundam a Mitologia comparada na “Literatura comparada”, uma área de pesquisa chamada pelos discípulos de Gilbert Durand de Mitocrítica e Mitanálise. A mitanálise tem a particularidade de vascular mais amplamente o contexto histórico-social do mito em uma coletividade. No quadro de nossos empreendimentos de poeticista, está privilegiada a denominação MITOPOÉTICA.

No mito da origem, se encontra embutido um duplo rumo de estudo estreitamente ligado como Cara e Coroa: o Mito do Paraíso & O Mito da Perda do Paraíso Para re-escrever ambos juntos com uma ênfase num deles, os poetas, dramaturgos, romancistas , Músicos de ópera (Gounod, Berlioz), Pintores, Escultores se inspiram habitualmente no Livro I da Bíblia intitulado GÊNESE, mais indiretamente e em um certo sincretismo em mitos Gregos (Hesíodo, Os trabalhos e os Dias) ou Babilônicos ou Orientais (Gilgamesh). Em ocidente, as duas mais fortes expressões deste mito do paraíso perdido é o famoso drama Paradise lost do genial dramaturgo britânico, Sir John Milton e o citado ópera de francês Charles Berlioz.. Mas durante o Congresso da ABECAN (Novembro,2009, Universidade Federal de Goiás, Goiânia , Goiás) , o professor Sébastien presidiu uma mesa de palestrantes sobre o Mito das origens com três textos intitulados: O mito das origens no poeta canadense Gilles Hénault, O Paraíso Perdido em Carlos Drummond de Andrade e John Milton, O Paraíso recuperado na poesia de Gilberto Mendonça Teles..

Estes textos lhes serão comunicados

Mas do ponto de vista de uma Mitopoética nossa referência máxima é um estudo programático de Paul Ricoeur. Ela se encontra traduzida em parte em O conflito das Interpretações (Ricoeur, Paul. Porto:RES,S/d, p.282-291). O texto completo tem como referência, o tema principal da presente opção da nossa disciplina dada logo a seguir:

RICOEUR, Paul. The Symbolismo of Evil. New York:Harper,1975.

RICOEUR, Paul. Philosophie de La volonté. Tome 2:La symbolique Du mal. Paris:Aubier, 1960.

Em termos expressos, o tema se chama: A Poética do Mal., no qual o mito fundamental é o Mal na sua etiologia, na diversidade de suas figuras ou mitemas, expressão esta que, originada de Livros Sagrados de praticamente todas as culturas do mundo; se traduz e se re-traduz ( melhor: se re-escreve) ad infinitum nas obras de arte e de literatura.. Portanto, mais uma vez, voltamos a repetir que se trata aqui de uma poética,ou modo de produzir literatura e arte, suscitadora por sua vez de uma apreciação estética. Entramos em Literatura e nos Departamentos de Letras para nos ocupar dessas coisas, quando a Instituição (professores, tradições, regulamentos administrativos, horários, contagem de créditos) nos o permite..

Eis agora mais uma referência de apoio, ausente de nossa bibliografia inicial. Pode ser adquirida pela Livraria Cultura , Recife.Tel.:2102.4033

PELLAUER, David. Comprender Ricoeur. Petrópolis: Vozes, 2009, p.31-32 + p.25-35. (disponibilizado).

Quem trabalha sobre Memória, Narrativa, Identidade, deveria comprar este livrinho cujo valor está entre 20 e 30 reais.

Por que Ricoeur? Sumariamente, Ricoeur foi escolhido porque ele responde a essa idéia de Walter Benjamin difundida por Marcio Seligmann-Silva, a saber que a literatura é uma filosofia ou seja, uma vasta metáfora cognitiva em seu universo de discurso. Por conseguinte, estar à altura desta mundo em estado permanente de produção mesmo depois da última palavra do texto, é ser um leitor-produtor em segundo grau. O impacto da obra incita a isto.Ora, tal é o ensinamento da Hermenêutica filosófica e da Poética de Paul Ricoeur.

Embora não seja nossa intenção de provar essa afirmação, remetemos os interessados a alguns estudos comprobatórios indicados por David Pellauer:

EVANS,J. Paul Ricoeur´s Hermeneustics of the imagination.Nova York:Peter Lang, 1995.

RASMUSSEN, D.M. Mythic-symbolic language and Philosophical Anthropology. A constructive interpretation of the thought of Paul Ricoeur. Haia:Nijhoff,1971.

Ricoeur, Paul,. The metaforical processo as cognition, imagination, and feeling.Critical inquiry, Vol 5, 1978,p.145-159.

VALDÈS, Mario J. (org.) Reflexion and imagination. A Ricoeur reader. .Toronto: University of Toronto Press,,1991

No trecho da Simbólica do Mal de Ricoeur que submeti a sua leitura e apreciação, o filósofo analisa as imagens segundo os seus gradientes de universalidade ou de abstração, semelhantemente à distribuição das categorias do imaginário em Gilbert Durand e em um de seus brilhantes intérprete, o filosofo das imagens Jean-Jacques Wunenburger: esquemas diretores, arquétipos, símbolos, imagens. Seu discurso evolui do particular,do singular, - digamos de preferência, do sensível e do sentido aparente (a nódoa, a coisa suja, o peso da consciência ) para o menos visível, para o latente, para o não manifesto, diríamos aquilo que se intui ou que se deduz como inferência quase-conceitual ( a culpa ou um vago sentimento de culpa), para chegar assim a um terceiro patamar nitidamente reflexivo, a consciência da culpabilidade, a interiorização da falta. Chegando a este nível, e sempre guiado pelas palavras-imagens, por palavras-metáforas assim como tão bem o demonstrou Gastón Bachelard, estamos instrumentado para começar o trabalho da interpretaçã0o mítica ou mitocrítica ou mitopoética propriamente dita.

Até agora estávamos fazendo uma leitura de reconhecimento cde terreno, um agrimensura, um levantamento, um survey das imagens possíveis e s de suas possibilidades de operacionalização. Doravante entramos no cerne do trabalho, isto é, na fase propriamente mítica dos Estudos do Imaginário segundo Ricoeur. É preciso chamar as categorias de Gilbert Durand mencionadas acima. Não para colocar o a Imaginação criadora em uma camisola de força. Toda teoria não passa de uma boa indicação e de útil ponto de partida para a reflexão sobre o material de terreno ou a obra. Pois este ou esta que vai decidir da adequação do instrumento. Todas as vezes que a imaginação produtora resiste, somos autorizados, por vezes obrigados a INVENTAR a partir do método ou da categoria em uso. Dar uma guinada para a qual apela o objeto de pesquisa. Teoria-camisola-de-força é contraproducente, poda o agir, principalmente se remontarmos à origem grega da palavra THEÔRIA, contemplação..

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Entretanto, nesta altura, favor começar por procurar em Danielle Rocha Pitta, Iniciação à Teoria do Imaginário de Gilbert Durand, (nas páginas17 e 18) uma revisão das noções de “Schème”, arquétipo, símbolo, imagem)+ na nas páginas 22-23 a concepção dos Regimes Diurno e Noturno do Imaginário, tendo em mão também o quadro da pagina 82-83 do livrinho A Imaginação Simbólica de Gilbert Durand ( Editora Cultrix) que já e foi disponibilizado. Pode também, se quiser, dar um olhar no meu artigo Regimes do Imaginário em Invenções da Noite Menor de Cesar Leal. Com isso você vai entender melhor aquilo que diz Paul Ricoeur nas 9 páginas referentes à Simbólica do Mal.

Não precisa de mais Teoria para infernizar a sua vida. Basta usar este compêndio, e refletir sobre o ou os textos de Literatura que você está trabalhando. Se está viciado mesmo em teorêtica, aguarde o meu Livro que está em diagramação na Editora da UFPE: Poética do Imaginário e Mitopoética. Ou caso tenha capacidade de ler francês , procure-me para receber um capítulo sobre a profecia, sobre as imagens místicas e as imagens do sagrado que dificilmente tem correspondência no real visível, mas que não existem menos na poesia e em toda obra religiosa e de imaginação de primeira grandeza. O livro de Cynthia Fleury (org.), Imagination, Imaginaire, Imaginal, Paris: PUF, 2006, p.131-182 tem um texto de Douglas Hedley sobre La Prophétie/a profecia, e um texto de Jean-Jacques Wunenburger sobre La créativité imaginative. Le paradigme autopoïétique (Kant, Bachelard, H. Corbin), suscetíveis de preencher todas as expectativas.. Mas dentro da meta escolhida para este semestre , É PRECISO PASSAR LOGO À LEITURA Do Mal em O Sol dos Trópicos.( de David Gonçalves).

Nova programação definitiva para os demais encontros

1) em abril e até a segunda semana de maio: o Funcionamento da Mal na simbólica de O SOL dos TRÓPICOS;

2) na segunda quinzena de maio: o nascimento e a evolução do Mito de Faust ( como mito do Mal) - : O mito se iniciou com Johann Spies (o Faust real) na passagem do final da Idade Média ao Renascimento , e de intermediário em intermediário no Teatro de Christopher Marlowe, e na literatura (inclusive religiosa e edificante graças a Luther e Calvino) chegou ao Faust de Goethe (drama da Alemanha romântica) e depois ao Mon Faust de Valéry (poeta francês do século XX)

3) Ainda em Maio: Ver como um Homem real elevado a nível de símbolo de uma multidão VENCE um ser natural elevado também a nível de Símbolo do Mal, pela Leitura das 19 primeiras páginas de Espelho de tauromaquia de Michel Leiris ( para o nosso prazer).

4) Junho: exposição discente/ , uma resenha contendo A) o que retirou de útil nesta travessia toda, B) O que é possível encaixar de tudo isto em seu projeto de trabalho (tese, dissertação, projeto futuro)

Mais repisação para os que foram ausentes: Na primeira Aula, foi dito também que O Mito pode se esconde muitas vezes em nossas leituras na roupagem das metáforas e de muitas conotações que é preciso trabalhar com um olhar para trás (História da cultura grego-latina, e História literária, História dos grandes eventos e fatos marcantes de uma época: personagens famosos, heróis, vedetes, cataclismo natural memorável, genocídio etc ) observando sempre o jogo da Intertextualidade, a retomada de fato virado protótipo, as imposições da fala comum, a emergência ou re-emprego de Temas e Motivos à maneira de Borges.

Entretanto, não é impossível que um texto artístico moderno seja o ponto de partida de um sem-número de rebentos ou proles, que tal obra faça história ao desencadear uma variedade de formas ou gêneros de discursos, de artes plásticas, de arte publicitária, de u slogan. Mas em geral um mito implica um olhar para trás e ao mesmo tempo para frente Trabalha com a memória e com a utopia ou profecia


Um comentário:

  1. Olá professor , gostaria de saber como posso adquirir, seu livro:JOACHIM, Sébastien. Poética do Imaginário: leitura do mito. Recife: Editora UFPE,
    2010.

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